Ex-governador afirmou que o arcebispo Dom Orani Tempesta participou de pagamentos de propinas a partir de Organizações Sociais na saúde.
Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, teve sua reputação questionada pelo ex-governador Sérgio Cabral em seu último depoimento à Justiça. Em meio a tantas outras declarações – dentre elas a que admite ter vício por dinheiro e poder -, Cabral afirmou que membros da Igreja Católica no Rio de Janeiro participaram de transações envolvendo pagamento de propinas.
“Não tenho dúvida de que deve ter havido esquema de propina com a OS (Organização Social) da Igreja Católica, da Pró-Saúde”, disse Cabral. “O dom Orani devia ter interesse nisso, com todo respeito ao dom Orani, mas ele tinha interesse nisso. Tinha o dom Paulo, que era padre, e tinha interesse nisso. E o Sérgio Côrtes nomeou a pessoa que era o gestor do Hospital São Francisco. Essa Pró-Saúde certamente tinha esquema de recursos que envolvia religiosos. Não tenho a menor dúvida”, completou o ex-governador.
Dez anos atrás, um quadro de gastos inexplicáveis promovidos pelo padre Edvino Alexandre Steckel, então ecônomo responsável por administrar os bens da Arquidiocese do Rio, foi revelado pelo jornal O Dia. O padre gastou ao menos R$ 15 milhões em pouco menos de um ano e meio em que esteve à frente dos negócios da igreja. Do montante, R$ 2,2 milhões serviram para adquirir um apartamento de 500 metros quadrados no Flamengo, designado como moradia para o então arcebispo Dom Eusébio Oscar Scheid.
Steckel também decidira reformar andares da Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, o prédio em formato de vulcão inaugurado na Glória em 1976. Comprou sofás com almofadas de penas de ganso revestidas de couro em uma loja de luxo de Ipanema, com os quais gastou nada menos que R$ 38,5 mil, além de poltronas de quase R$ 7 mil cada. Três carros, sendo um blindado, também foram comprados por Steckel por mais de R$ 200 mil.
O caso, segundo a revista Época, tornou ainda mais escandaloso quando colocado em contexto. Meses antes, o mesmo padre havia demitido 67 funcionários da Arquidiocese e extinguido núcleos de ajuda solidária a crianças pobres e refugiados, por exemplo. Para tanto, contratou uma consultoria da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e alegou que a igreja deveria ser tocada como uma empresa.
Em nota, a Arquidiocese do Rio de Janeiro se limitou em dizer “que a Igreja Católica no Rio de Janeiro e seu Arcebispo têm o único interesse que organizações sociais cumpram seus objetivos, na forma da lei, em vista do bem comum.”
A organização social Pró-Saúde disse em nota que colabora com a investigação: “A Pró-Saúde tem colaborado com as investigações e, em virtude do sigilo do processo, não se manifestará sobre os fatos. A entidade filantrópica reafirma neste momento o seu compromisso com ações de fortalecimento de sua integridade institucional, bem como com a prestação de um importante serviço à saúde do Brasil”.
Eleições de 2014
Ainda sobre o depoimento de Sérgio Cabral, em outro trecho, o ex-governador revela que houve pagamento ao partido Solidariedade para que apoiasse, em 2014, a eleição de Luiz Fernando Pezão, então vice-governador e secretário de Obras.
“Na campanha de 2014 eu pedi dinheiro para pagar o Solidariedade. É uma outra história. O Solidariedade foi, de certa maneira, comprado para apoiar o Pezão em 2014, mas esta é uma outra situação, que o Miguel Iskin [empresário do ramo de produtos médicos, envolvido e preso] ajudou também, pagando por dentro e me deu um dinheiro por fora”, disse.
O Solidariedade negou. “O Partido Solidariedade repudia as declarações do ex-governador Sérgio Cabral. O partido integrava a base de apoio do seu governo e a decisão de apoiar a reeleição do governador Pezão foi apenas uma continuidade do posicionamento existente. As doações recebidas foram devidamente registradas e as contas aprovadas pelo TSE”, disse em nota.
Carta Capital
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