quinta-feira, 10 de maio de 2018

PALMEIRAS VAI À POLÍCIA APURAR FALSO TESTEMUNHO DE ÁRBITROS DE FINAL; CLUBE USA DOSSIÊ DE EMPRESA AMERICANA, LEITURA LABIAL DE PERITOS E CONTRADIÇÕES EM AUDIÊNCIA

O Palmeiras vai pedir a abertura de inquérito policial para apurar falsos testemunhos cometidos por árbitros e funcionários da FPF (Federação Paulista de Futebol) em depoimentos feitos ao TJD-SP (Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo) em audiência sobre suposta interferência externa na final do Campeonato Paulista deste ano.
Na ocasião, o time alviverde foi derrotado pelo Corinthians, no Allianz Parque, mas o jogo ficou marcado por pênalti marcado em Dudu que a arbitragem voltou atrás após oito minutos de paralisação. O Palmeiras acusa interferência externa no lance – ocorrido aos 26 minutos do segundo tempo – o que é proibido por regulamento.
O advogado criminalista José Luis Oliveira Lima, que representa o empresário José Hawilla no caso Fifa e defendeu também nomes como o ex-ministro José Dirceu no episódio do Mensalão, foi contratado pelo Palmeiras para acompanhar o procedimento no TJD-SP e confirmou a iniciativa de ir à polícia.
“Com base nas contradições, nas versões apresentadas pelas testemunhas que prestaram depoimentos com o compromisso de dizer a verdade, vamos requerer a instauração de inquérito policial para apurar o crime de falso testemunho”, disse o advogado à Folha.
O Código Brasileiro de Justiça Desportiva, em seu artigo 63, parágrafo 1, especifica que toda pessoa que servir como testemunha assumirá o compromisso de dizer a verdade sobre o que souber e lhe for perguntado. A pena prevista para um crime de falso testemunho é de 2 a 4 anos de reclusão, mais multa.
A FPF, por sua vez, se defende e diz que abriu uma sindicância interna por parte da corregedoria da entidade, comandada por uma delegada da polícia civil, e que o procedimento concluiu que não ocorreu interferência externa na decisão do Campeonato Paulista deste ano – veja nota oficial mais abaixo.
O Palmeiras baseia sua defesa em dossiê da empresa americana Kroll, considerada a maior de investigação corporativa do mundo, e laudo pericial do IBP [Instituto Brasileiro de Peritos], autoridade em auditoria e perícia forense. Ambos foram remunerados pelo clube para apurar a interferência externa.
No Brasil, a Kroll ganhou projeção ao ser contratada para fazer o rastreamento de contas da Operação Uruguai, durante o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992. Anos depois, em 2004, foi acusada de ter espionado o governo federal brasileiro durante um contrato da Brasil Telecom, sendo alvo de busca e apreensão em pelo menos três Estados.
LEITURA LABIAL
Segundo informações obtidas pela Folha, o Palmeiras utiliza no processo uma leitura labial feita pelo IBP em cima dos árbitros, que detectou algo diferente ao que o delegado da partida, Agnaldo Vieira, disse em seu depoimento. Para o clube, além da contradição, isso mostra um contato externo com a equipe de arbitragem.
O laudo pericial do IBP aponta que o delegado, oito segundos antes de o árbitro Marcelo Aparecido decidir voltar atrás na marcação do pênalti, chamou nominalmente o quarto árbitro, Adriano Miranda, em meio a um bolo de atletas. Isso vai contra o pronunciamento de Agnaldo Vieira junto ao tribunal.
No foro, então questionado se falou o nome do quarto árbitro nesse instante em específico, negou.
Afirmou que, no momento em questão, disse apenas “ei, sai, vai pra lá”, como se tentasse dispersar o aglomerado de gente, sem dizer a alcunha “Adriano”. Não é o que mostra a leitura labial do IBP. Oito segundos depois, o árbitro Marcelo Aparecido levantou os dois dedos da mão para chamar um membro de cada equipe para conversar e informar que tinha decidido voltar atrás na marcação do pênalti.
​O Palmeiras vê ainda mais força em seu argumento de interferência externa porque, segundo a investigação da Kroll, pouco antes de chamar o quarto árbitro Adriano pelo nome, o delegado da partida estava reunido com o Márcio Verri, membro da comissão de arbitragem da FPF flagrado com um celular na mão durante a marcação do pênalti polêmico.
REUNIÃO
A Kroll argumenta que também participaram dessa reunião o diretor de arbitragem da FPF, Dionísio Roberto Domingos, e o presidente da comissão de arbitragem da FPF, José Henrique de Carvalho. O Palmeiras aponta que, nesse momento, Verri portava um celular consigo, o que é proibido.
A investigação da Kroll ainda menciona que, em seguida à reunião, o diretor de arbitragem da FPF se aproxima do assistente Anderson Coelho – outro com sistema de rádio conectado aos árbitros -, em duas ocasiões para, seja por palavras ou gestos, comunicar que a marcação do pênalti estava incorreta.
Uma dessas aproximações ocorreu exatos nove segundos após o replay do lance do pênalti marcado em Dudu ser transmitido na TV pela primeira vez. Nesse momento, Dionísio estava ao lado de Verri, que consultava o celular naquele instante.
Em seu depoimento ao TJD-SP, o diretor do departamento de arbitragem da FPF afirmou, ao ser questionado se tinha entrado em contato com Márcio Verri, que “não, em nenhum momento, por que eu [Dionísio] fico lá em cima, e o Verri fica lá embaixo”. Ainda afirmou que Márcio Verri estava fazendo “papel de segurança” na partida final.
Em seu pedido de impugnação, o Palmeiras rebate com imagens que mostram que Verri está listado no site da FPF como integrante da escala de árbitros, além de ser membro da comissão da arbitragem da FPF, e que também não estava escalado para a partida final.
CONTRADIÇÕES
O Palmeiras também viu contradições em outros depoimentos, como o do quarto árbitro, Adriano Miranda. Ao tribunal, ele falou que jogadores do Corinthians ouviram ele dizer as palavras “canto, canto, canto” no imediato momento em que o pênalti foi assinalado. E citou o volante Gabriel.
Contudo, pouco depois, Adriano voltou atrás e disse não saber se o meio-campista corintiano ouviu ele dizer as palavras citadas.
Também apontou que tanto ele quanto o árbitro estavam cercados por atletas, razão pelo qual nenhum membro da equipe de arbitragem – que se comunicam entre si por rádio – ouviu ele dizer “canto, canto, canto”.
O relatório da Kroll aponta que Adriano não estava cercado por ninguém no momento da marcação da penalidade e demorou seis segundos para começar a ser questionado por atletas do Corinthians.
Já o árbitro Marcelo Aparecido afirmou em seu depoimento que só ouviu o quarto árbitro falar a palavra “canto” posteriormente à marcação do pênalti, após ele aplicar o cartão amarelo ao zagueiro Balbuena por reclamação, mas Adriano declarou só dito “canto” no momento da marcação do pênalti.
OUTRO LADO
A Folha enviou questionamentos à FPF, com 17 perguntas específicas não apenas à própria federação, mas também ao quarto árbitro, Adriano de Assis Miranda, ao árbitro, Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza, a o diretor do departamento de arbitragem da FPF, Dionísio Roberto Domingos, e ao delegado da partida, Agnaldo Vieira.
A Federação Paulista de Futebol respondeu tudo por meio de uma nota oficial. Segue abaixo:
“A FPF reafirma sua posição, dada tanto em suas manifestações na Justiça Desportiva quanto em nota oficial, de não ter havido interferência externa. A FPF informa ainda que, imediatamente após a final, foi determinada a instauração de uma sindicância snterna por parte da corregedoria da FPF. Conduzido pela dra. Margarete Barreto, delegada da polícia civil, o processo de sindicância foi finalizado nesta semana e concluiu que não houve interferência externa na partida”.
Nesta quarta (9), o Palmeiras encaminhou recurso ao pleno do TJD-SP e um mandado de garantia junto ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), vinculado à CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Em seu pedido de impugnação da partida, o time alviverde quer que o resultado da decisão do Paulista não seja homologado até o julgamento final do mérito.

Fonte:Folha de São Paulo

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