Num dos trechos de sua fala, reconheceu que a atual presidente mentiu durante a campanha eleitoral de 2014:
“Tem uma frase da companheira Dilma que é
sagrada: ‘Eu não mexo no direito dos trabalhadores nem que a vaca
tussa’. E mexeu. Tem outra frase, Gilberto [Carvalho], que é marcante,
que é a frase que diz o seguinte: ‘Eu não vou fazer ajuste, ajuste é
coisa de tucano’. E fez. E os tucanos sabiamente colocaram Dilma falando
isso [no programa de TV do partido] e dizendo que ela mente. Era uma
coisa muito forte. E fiquei muito preocupado”.
O PSDB fez programas duros contra o PT e
Dilma. Em 10 de maio de 2015, mostrou comerciais curtos nos quais
brasileiros aparecem em situação de desalento. Em 19 de maio, foram
veiculadas as falas de Dilma na campanha de 2014, nas quais a petista
promete não arrochar salários nem produzir desemprego.
O encontro de anteontem (18.jun.2015)
foi com padres e dirigentes de entidades religiosas no auditório do
Instituto Lula, segundo detalhadíssimo relato das repórteres Tatiana
Farah e Julianna Granjeia, do “O Globo”. Ao descrever a conjuntura
atual, o ex-presidente fez um desabafo:
“Dilma está no volume morto, o PT está
abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa
situação muito ruim. E olha que o PT ainda é o melhor partido. Estamos
perdendo para nós mesmos”.
A expressão “volume morto” se refere à
crise de abastecimento de água no Estado de São Paulo. Para manter o
fornecimento, o governo paulista recorreu a uma reserva das represas
conhecido como “volume morto”.
Como o encontro foi antes da prisões de
sexta-feira (19.jun.2015) de empreiteiros por causa da Operação Lava
Jato, Lula não fez menções a esse assunto.
Na conversa com religiosos, Lula deu um
exemplo de como a situação está delicada para o governo federal e para o
PT. Mencionou uma pesquisa interna do partido:
“Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo
André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a
pesquisa para Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo”.
Segundo Lula, ele teria dito a Dilma que
o resultado da pesquisa não deveria desanimá-la. “Isso é para você
saber que a gente tem de mudar, que a gente pode se recuperar. E entre o
PT, entre eu e você, quem tem mais capacidade de se recuperar é o
governo, porque tem iniciativa, tem recurso, tem uma máquina poderosa
para poder falar, executar, inaugurar”.
Lula falou por cerca de 50 minutos,
segundo o relato de “O Globo”. Reclamou que o PT e o governo estão
fazendo pouca política num momento de dificuldades econômicas para o
país.
“Na falta de dinheiro, tem de entrar a
política. Nesses últimos 5 anos, fizemos muito menos atividade política
com o povo do que fizemos no outro período”.
O ex-presidente citou algumas vezes o
ex-ministro Gilberto Carvalho, interlocutor frequente do PT com
movimentos religiosos. Carvalho, presente ao evento de anteontem,
participou do primeiro mandato de Dilma Rousseff, mas viu seu papel
dentro da administração federal ser desidratado. No momento, está fora
do governo.
“Gilberto sabe do sacrifício que é a
gente pedir para a companheira Dilma viajar e falar. Porque na hora que a
gente abraça, pega na mão, é outra coisa. Política é isso, o olhar no
olho, o passar a mão na cabeça, o beijo”.
Lula falou mal do ambiente dentro do
Palácio do Planalto: “Aquele gabinete [presidencial] é uma desgraça. Não
entra ninguém para dar notícia boa. Os caras só entram para pedir
alguma coisa. E como a maioria que vai lá é gente grã-fina… Só entrou
hanseniano porque eu tava [sic] no governo, só entrou catador de papel
porque eu tava [sic] no governo”.
Para o ex-presidente, Dilma precisa “ir para a rua, viajar por esse país, botar o pé na estrada”.
Sobrou também uma reprovação para os
ministros petistas: “Os ministros têm de falar. Parece um governo de
mudos. Os ministros que viajam são os que não são do PT. [Gilberto]
Kassab [Cidades] já visitou 23 Estados”. Kassab, ex-prefeito de São
Paulo, é presidente nacional do PSD.
Para o titular da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, uma observação direta: “Pelo amor de Deus, Aloizio, você é
um tremendo orador. É certo que é pouco simpático”.
“Falar é uma arma sagrada. Estamos há 6
meses discutindo ajuste. Ajuste não é programa de governo. Em vez de
falar de ajuste… Depois de ajuste vem o quê?”. Para o ex-presidente, é
necessário “fazer as pessoas acreditarem que o que vem pela frente é
muito bom”.
Fonte Uol: A reportagem Fernando
Rodrigues pode ser lida
aqui. http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/2015/06/20/lula-reconhece-que-dilma-mentiu-na-campanha-de-2014/
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