Em “Batman, o Cavaleiro das Trevas”, Coringa dialoga com um rival e diz: “Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem estabelecida e você cria o caos. Eu sou o agente do caos”.
Nesta terça (15), após o teor de sua colaboração premiada atingir alguns dos principais gabinetes de Brasília, o senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) citou sua própria versão da célebre frase proferida pelo vilão da saga.
“Eu não sou vilão. Eu não sou bandido. Eu sou um profeta do caos”, disse, expressando um certo orgulho.
Em entrevista à Folha, o senador ironizou Aloizio Mercadante (Educação), ex-colega de Legislativo que, segundo o senador, tentou evitar a delação oferecendo apoio financeiro e lobby junto ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Refutou a ideia de que o ministro de Dilma Rousseff oferecera ajuda por amizade.
“Amigo? Ele é amigo da onça! Onde ele era meu amigo? Minha história toda no Senado é de briga com ele. Todo mundo sabe disso”, rebateu.
Mercadante sustenta ter oferecido auxílio por “solidariedade”, jamais para comprar o silêncio do senador.
Tal qual um “agente do caos”, Delcídio diz que as ofertas de Mercadante expostas na gravação feita por um assessor fazem “cair por terra” a tese de que o governo não tentou interferir no curso da Operação Lava Jato.
Essa ideia, aliás, é central nos depoimentos feitos por ele à força-tarefa.
Além de Mercadante, o ex-líder do governo no Senado mira no também petista Edinho Silva, ministro da Secretaria de Comunicação Social e tesoureiro da campanha de Dilma nas eleições de 2014. “Esse aí não aguenta um empurrão”, disparou.
Edinho classifica as declarações de Delcídio como “mentira escandalosa”. Auxiliares do ministro reclamam do fato de o senador fazer ilações sem apresentar provas do que diz.
SAÍDA
Delcídio solicitou oficialmente a sua desfiliação do PT. Em uma mensagem curta e direta, pediu as providências para o desligamento.
“Sirvo-me do presente para informar minha decisão de desfiliação do Partido dos Trabalhadores”, escreveu.
A saída já estava programada para acontecer no mesmo dia em que o Supremo homologasse a delação premiada que ele fez após ter sido preso, em novembro do ano passado, sob a acusação de ter tentado atrapalhar as investigações da Lava Jato.
Na prisão, Delcídio reclamava do abandono do PT e de falta de solidariedade por parte dos correligionários. Agora, deverá se concentrar na defesa contra a cassação do seu mandato.
Pelo acordo de delação, o senador terá que devolver aos cofres públicos R$ 1,5 milhão por seu envolvimento no esquema da Petrobras.
“O acordo de colaboração celebrado também teve por fim a recuperação do proveito das infrações penais praticadas pelo colaborador, no valor de R$ 1,5 milhão”, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no pedido de homologação.
As informações de Janot foram reproduzidas pelo ministro do STF Teori Zavascki na decisão desta terça.
O valor da multa poderá ser dividido em dez anos. O senador teve que dar um imóvel como garantia.
Ainda pelos termos do acordo, Delcídio ficará dois anos e meio em prisão domiciliar e, depois, seis meses de prestação de serviço. Ficou definido que a pena máxima aplicada a ele será de 15 anos.
Para a Procuradoria, Delcídio forneceu provas sobre “crimes praticados pelas organizações criminosas no âmbito do Palácio do Planalto, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, do Ministério de Minas e Energia e da companhia Petróleo Brasileiro S/A [Petrobras]”.
Segundo Janot, Delcídio informou que houve envolvimento do ex-presidente Lula e do pecuarista José Carlos Bumlai na compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Folha SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário