Voluntários tiveram vírus inoculado intencionalmente para experimento.
Imunizante é o mesmo que está sendo testado pelo Instituto Butantan.
A vacina contra dengue que está em teste agora no Brasil atingiu 100% de proteção em 21 voluntários de um experimento nos EUA, que aceitaram ser infectados com vírus vivos depois de receberem uma dose do imunizante. Um outro grupo de 20 participantes, que receberam placebo ao invés de vacina, contraiu a virose e apresentou sintomas.
O sucesso do experimento foi descrito nesta quarta-feira (16) por pesquisadores dos NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA), que desenvolveram o imunizante. No Brasil, a vacina americana foi licenciada pelo Instituto Butantan, que realiza agora um ensaio clínico com 17 mil pessoas.
O teste brasileiro, porém, não prevê infecção intencional de voluntários, e deve levar mais tempo até exibir resultados. Os cientistas brasileiros que projetaram o ensaio clínico no Brasil já sabiam que o teste com "cobaias humanas" havia tido sucesso nos EUA.
"Os resultados de nosso estudo desafio ajudaram a informar o Butantan qual formulação de vacina levar para seu estudo de fase 3 e foi extremamente útil para autoridades reguladoras", afirmou Anna Durbin, da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, de Baltimore (EUA), uma das líderes do experimento.
Em entrevista coletiva por telefone, a pesquisadora se disse muito otimista com a perspectiva do trabalho no Brasil. "Esses resultados promissores só podem ser confirmados por estudos de eficácia de fase 3."
Licenciamento
O Butantan, que detém exclusividade na produção da vacina TV003 no Brasil, começou a aplicar o imunizante em 22 de fevereiro em seu teste. As doses são fabricadas pelo próprio instituto. Nos EUA, o imunizante criado pelos NIH foi licenciado pela gigante farmacêutica Merck, que pretende fabricá-la e distribuí-la a outros países.
O Butantan, que detém exclusividade na produção da vacina TV003 no Brasil, começou a aplicar o imunizante em 22 de fevereiro em seu teste. As doses são fabricadas pelo próprio instituto. Nos EUA, o imunizante criado pelos NIH foi licenciado pela gigante farmacêutica Merck, que pretende fabricá-la e distribuí-la a outros países.
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No teste realizado nos EUA, os cientistas usaram para "desafiar" os voluntários uma linhagem de vírus da dengue tipo 2 achado no Pacífico, que provoca sintomas mais leves. Como o patógeno seria inoculado intencionalmente, os pesquisadores queriam usar uma variedade menos nociva.
No experimento, os vírus foram inoculados nos pacientes seis meses após uma única dose da vacina. Batizada de TV003, ela é uma vacina tetravalente, que visa proteger as pessoas contra os quatro subtipos da dengue. Em testes anteriores, cientistas viram que o imunizante era capaz de estimular a produção de grande número de anticorpos -- moléculas de ataque do sistema imune --, mas apenas contra os subtipos 1, 3 e 4.
Desafio
Isso não significava necessariamente que a vacina seria ineficaz contra a dengue tipo 2, por isso os pesquisadores decidiram fazer um "teste desafio", inoculando o vírus em um grupo pequeno de voluntários.
Isso não significava necessariamente que a vacina seria ineficaz contra a dengue tipo 2, por isso os pesquisadores decidiram fazer um "teste desafio", inoculando o vírus em um grupo pequeno de voluntários.
“Nós quisemos começar com um teste-desafio para dengue tipo 2 porque tínhamos uma ideia de que o componente da dengue tipo 2 na vacina seria um pouco mais fraco que os outros” afirmou Stephen Whitehead, o cientista que coordenou a criação da vacina nos NIH, misturando pedaços dos quatro vírus em um único vírus híbrido atenuado. “Podemos dizer com satisfação que mesmo esse componente fornece proteção total contra dengue 2.”
O teste feito pelo grupo está descrito em um artigo publicado nesta quarta-feira (16) pela revista “Science Translational Medicine”.
Testes-desafio da TV003 já haviam obtido sucesso também contra o subtipo 3 da dengue, e os cientistas afirmam que pretendem fazer o mesmo para os subtipos 1 e 4. A eficácia da vacina só pode ser atestada pelos testes de grande escala como o feito no Brasil, mas os experimentos pequenos, mais controlados, são úteis para entender como a vacina atua.
Segundo Durbin, a ideia é no futuro conseguir produzir uma vacina “pentavalente”, que proteja também contra o vírus da zika – um primo próximo da dengue. A pesquisadora diz acreditar ser possível realizar testes-desafio com cobaias humanas também com o zika, sem oferecer risco demasiado aos voluntários.
Rafael Garcia Do G1, em São Paulo
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