A tradição
de cobrir os santos durante a Quaresma é muito antiga. Para entendê-la é
preciso primeiro entender o que significam as imagens dos santos numa igreja.
Quando entramos
na Igreja e vemos as imagens, recordamos o mistério da Comunhão dos Santos: nós
formamos com Eles, que já estão glorificados com Cristo Ressuscitado, a única
Igreja que é Igreja Triunfante (que está nos céus), Igreja padecente (no
Purgatório) e Igreja militante (nós na Terra). As imagens são, pois, uma
mensagem de alegria: anunciam para nós essa consoladora e alegre verdade da fé
de que estamos unidos à vitória daqueles que viveram antes de nós e – como nós
– seguiram a Jesus.
Quando cobrimos
os santos na quaresma e, sobretudo na Semana Santa, estamos querendo
representar que, antes de eles viverem o mistério da glória com Cristo,
passaram pelo mistério da dor, dos sofrimentos e da morte de Jesus. Os santos
não são cobertos como sinal de luto, mas sim como sinal do mistério de
“solidariedade” e união profunda ao mistério da Paixão do Senhor. Nós os
cobrimos, dando um ar “pesante” ao espaço litúrgico, nada alegre, pois agora é
tempo de pensar na paixão do senhor.
Isso fica ainda
mais claro quando, no canto do Glória na Vigília Pascal vemos cair os panos
roxos e volta a alegria pois, no lugar daquela cor pesada e triste, aparecem de
novo as imagens coloridas e bonitas, sinais de quem venceu com Cristo, tendo
passado pela sua cruz em união à Dele.
Cobrir e
descobrir os santos, então, nos remete ao Mistério Pascal, que é mistério de
morte e ressurreição, de sofrimento e de alegria, de perca e de vitória. Cobrir
os santos é linguagem simbólica muito expressiva, que tem sido recuperada em
muitas Comunidades Cristãs, que estão se conscientizando do valor e da
necessidade do simbolismo na caminhada humana. Infelizmente esse uso foi se
perdendo (mas isso é até concebível diante da retirada das imagens das igrejas
na década de 70) e muitas comunidades simplesmente aboliram o seu uso nem
nenhuma explicação.
Também conhecido
como “Velatio“, este costume de cobrir as
imagens das Igrejas com tecido roxo durante a Quaresma, é para que os
fiéis não “se distraiam” com os Santos e que a
sua devoção deve estar fundamentada no Mistério Pascal de Cristo, ou seja, na
Sua paixão, morte e ressurreição.
Assim,
cobrindo-se todas as imagens dos Santos e os crucifixos, surge com maior
evidência o que há de essencial nas igrejas: o altar, onde se opera e atualiza
o Mistério Pascal de Cristo, por seu Sacrifício incruento.
A rubrica no
Missal Romano, 2ª edição típica, no sábado da IV semana da Quaresma (pág. 211,
em português) e também a contida na Paschalis Sollemnitatis: A Preparação e
Celebração das Festas Pascais, nº 26, nos ensina que:
“o
uso (costume) de cobrir as cruzes e as imagens na igreja, desde o V Domingo da
Quaresma, pode ser conservado segundo a disposição da Conferência Episcopal. As
cruzes permanecem cobertas até ao término da celebração da Paixão do Senhor na
Sexta-feira Santa; as imagens até ao início da Vigília Pascal”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário