terça-feira, 19 de abril de 2016

Brasil tem 'veio golpista adormecido', diz Dilma a jornalistas estrangeiros


Presidente concedeu entrevista nesta terça (19) a correspondentes.
Aos jornalistas internacionais, ela também disse ser vítima de 'injustiça'.

Em entrevista coletiva a correspondentes estrangeiros no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira (19) que está sendo "vítima" de um processo de impeachment baseado em uma "flagrante injustiça" e que o Brasil tem um "veio golpista adormecido". De acordo com a petista, ela classifica de "veio" a possibilidade que "nunca é afastada".
Desde que o Congresso Nacional começou a analisar o processo de afastamento, é a segunda vez que Dilma reúne jornalistas do exterior na sede do Executivo federal para dar sua versão sobre a tentativa de afastá-la do comando do país. Na primeira entrevista aos correspondentes, concedida no fim de março, ela havia afirmado que está sendo alvo de uma tentativa de "golpe".
"Como explicar esse processo de impeachment no quadro da democracia, da situação política e  da situação econômica? Faço essa pergunta porque tenho profunda consciência que estou sendo vítima de um processo simultaneamente baseado numa flagrante injustiça, numa fraude jurídica e política que é a acusação do crime de responsabilidade sem base legal, sem crime e, ao mesmo tempo, de um golpe", ressaltou a presidente da República ao iniciar a entrevista aos jornais internacionais.
"O Brasil tem um veio que é adormecido. Um veio golpista adormecido. Se acompanharmos a trajetória dos presidentes no meu país, no regime presidencialista, a partir de Getúlio Vargas, vamos ver que o impeachment, sistematicamente, se tornou um instrumento contra os presidentes eleitos. Eu tenho certeza de que não houve um único presidente depois da redemocratização do país que não tenha tido processos de impedimento no Congresso Nacional. Todos tiveram. Todos", enfatizou.
'Golpe'
Ao longo da entrevista, Dilma também voltou a defender as operações contábeis do governo que embasaram o pedido de impeachment apresentado por três juristas no Congresso. Segundo ela, as chamadas "pedaladas fiscais" e os decretos presidenciais publicados sem autorização do Legislativo são questões "contábeis e fiscais" que não dizem respeito ao dinheiro público.
A presidente chamou a atenção dos correspondentes de que durante a votação do processo de impeachment no plenário da Câmara, no último domingo (17), poucos deputados se referiram aos motivos alegados no pedido de impeachment protocolado contra ela no parlamento.
Aos jornalistas internacionais, Dilma voltou a afirmar que, na opinião dela, ela está sendo alvo de um "golpe", na medida em que, disse a presidente, as acusações do pedido de impeachment não são base legal para um processo de afastamento de um presidente.
"Me sinto injustiçada e acho grave que tentem sempre diminuir esse fato. Esta exigência, que é a exigência da base legal para buscar o impedimento do presidente da República. Aí pergunto para vocês: por que isso não seria um golpe? É um golpe. É um golpe porque está revestido de um pecado original, que é não ter base legal para o meu impeachment."
Crise econômica
A presidente destacou ainda que, na opinião dela, se a argumentação de crise econômica fosse argumento para destituir presidentes da República, "não teria um único presidente nos países desenvolvidos que sobrevivesse à profunda crise econômica que se espalhou pelo mundo após o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008.
Ela reclamou aos jornalistas estrangeiros que, no Brasil, muitas pessoas atribuem exclusivamente a ela a responsabilidade pela crise econômica que atingiu o país desde 2014.
"Como se eu fosse responsável pelo fim do superciclo das commodities, pela brutal crise que afetou a partir de 2009 os países desenvolvidos, como se no resto do mundo essas dificuldades não tenham sido enfrentadas em até escala muito maior", disse a presidente.
Eduardo Cunha
Dilma aproveitou a entrevista aos veículos de imprensa estrangeiros para responsabilizar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pela instabilidade política de seu governo. De acordo com a presidente, "práticas absolutamente condenáveis" ganharam "força razoável" na Câmara assim que o peemedebista assumiu o comando da casa legislativa.
A petista destacou a aprovação, ao longo de 2015, de projetos que elevavam as despesas do governo federal, as chamadas "pautas-bomba". Para ela, a aprovação de propostas que ela classificou de "populistas" inviabilizavam, na prática, a rigidez fiscal do Executivo.

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