quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Amigo de Lula é preso na Lava Jato

A Polícia Federal e a Receita deflagraram ontem a Operação Passe Livre, 21ª fase da Operação Lava Jato. As investigações desta etapa, segundo a PF, partem de apuração das circunstâncias da contratação de navio sonda pela Petrobrás com ‘concretos indícios de fraude no procedimento licitatório’. O empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, foi preso preventivamente em Brasília.
Suellen Lima/framephotoPoliciais federais prendem o empresário que é suspeito de envolvimento nas irregularidade na contratação do navio sondaPoliciais federais prendem o empresário que é suspeito de envolvimento nas irregularidade na contratação do navio sonda

Foram conduzidos coercitivamente Cristiane Dodero Bumlai, Guilherme Bumlai e Mauricio Bumlai, nora e filhos do empresário, respectivamente, além dos administradores Natalino Bertin e Silmar Bertin, ligados ao Grupo Bertin, e o policial militar Marcos Sergio Ferreira.

O pecuarista estava na capital federal, pois prestaria depoimento à CPI do BNDES ontem. Ele estava no hotel Golden Tulip, a poucos metros do Palácio da Alvorada. Bumlai será levado para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

O amigo de Lula foi citado por dois delatores da Lava Jato. O lobista Fernando Baiano, um dos delatores do esquema de corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014, declarou que repassou a Bumlai quase R$ 2 milhões destinados à mulher de um dos filhos de Lula. Segundo outro delator, Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobrás, Bumlai intermediou o pagamento de uma conta do PT de R$ 60 milhões, originada na campanha à reeleição de Lula, em 2006.

Segundo a PF, 140 policiais federais e 23 auditores fiscais cumprem 25 mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão preventiva e 6 mandados de condução coercitiva – quando o investigado é levado para depor – nas cidades de São Paulo, Lins (SP), Piracicaba (SP), Rio de Janeiro, Campo Grande (MS), Dourados (MS) e Brasília.

“Segundo apurações, complexas medidas de engenharia financeira foram utilizadas pelos investigados com o objetivo de ocultar a real destinação dos valores indevidos pagos a agentes públicos e diretores da estatal”, informou a Polícia Federal em nota. 

Os investigados nesta fase responderão pelos crimes de fraude à licitação, falsidade ideológica, falsificação de documentos, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

O criminalista Arnaldo Malheiros Filho, advogado do amigo de Lula, disse que Bumlai estava em Brasília para depor na CPI. Malheiros disse que não foi informado sobre os motivos da prisão.

Força-tarefa mira nos empréstimos de Bumlai A força-tarefa da Operação Lava Jato mira em financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a empresas do pecuarista José Carlos Bumlai. São alvos da investigação a São Fernando Açúcar e Álcool e a São Fernando Energia 1, empresas sob administração dos filhos do amigo do ex-presidente Lula. Bumlai foi preso, na Operação Passe Livre, 21ª fase da Lava Jato.

A São Fernando Açúcar e Álcool foi beneficiária de um primeiro empréstimo, no montante de R$ 64 milhões, em fevereiro de 2005, quatro meses depois do empréstimo de R$ 12 milhões concedido pelo Banco Schahin a Bumlai - dinheiro que teria sido destinado ao PT, segundo a investigação.

"A Receita constatou que a empresa estava inativa na época, não tinha empregado, nem receita operacional quando ocorreu o primeiro empréstimo", assinala o procurador da República Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa do Ministério Público Federal.

Em 2008 foi realizado um segundo empréstimo em favor da São Fernando Açúcar e Álcool, no valor de R$ 350 milhões. "Naquele ano já havia pedido de falência dessa empresa, já havia sido protocolado pedido de falência contra a São Fernando Açúcar e Álcool", informou o procurador.

Em 2013, ainda de acordo com a Lava Jato, a São Fernando Açúcar e Álcool entrou em recuperação. Os investigadores relatam que, em agosto de 2015, o BNDES pediu falência da empresa, com dívidas acumuladas de mais de R$ 1 bilhão. A dívida com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, segundo os investigadores, chega a R$ 400 milhões, "créditos foram sendo concedidos e não pagos ao longo do tempo".

A outra empresa de Bumlai, a São Fernando Energia, consta na base de dados da Receita como beneficiária de novo aporte do BNDES, em 2012, no valor de R$ 104 milhões. "Em 2012, (a São Fernando Energia) contava com apenas 7 funcionários. Ela dá um aporte no capital social de R$ 10 mil para R$ 30 milhões e começa a ter atividade operacional. Os fatos ainda estão sob investigação, por isso a diligência de para obtenção de contratos no próprio BNDES".

Paulo Okamotto minimiza ‘amizade’São Paulo (AE) - Horas depois de a Polícia Federal deflagrar a 21.ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Passe Livre, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, minimizou a proximidade entre o pecuarista José Carlos Bumlai, preso pela Polícia Federal, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Bumlai frequentava as festas e aniversários, mas não era aquele amigo do Lula que todo mundo está falando", disse Okamoto, ontem

O presidente do Instituto Lula é um dos colaboradores mais próximos do ex-presidente há mais de 30 anos e disse ter dificuldade para acreditar que Bumlai tivesse passe livre no Palácio do Planalto durante o governo do petista. "Isso foi amplamente divulgado pela imprensa, mas acho difícil de acreditar. Eu sou mais amigo do Lula do que o Bumlai e eu precisava me identificar toda vez que ia ao Palácio (do Planalto). Essa história não é crível", afirmou Okamotto. 

Foto divulgada pela revista Veja mostra uma circular com data de 12 de agosto de 2008 pendurada na portaria de entrada do Palácio do Planalto, com a informação de que Bumlai deveria ser encaminhado a qualquer ponto da sede do governo "após contato telefônico em qualquer tempo e qualquer circunstância.

Na decisão que mandou prender o pecuarista José Carlos Bumlai, o juiz Sérgio Moro ressaltou que não há nenhuma prova contra o ex-presidente petista no empréstimo de R$ 12 milhões do banco Schahin ao pecuarista que, segundo os investigadores e com base em delações dos próprios executivos do banco, teria sido para repassar dinheiro ao PT.

“Não há nenhuma prova de que o ex-Presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução”, aponta o magistrado na decisão.

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