terça-feira, 3 de novembro de 2015

DIA DE FINADOS E A RELIGIOSIDADE SERTANEJA: JARARACA, NOSSO SANTO POPULAR

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Hoje, dia de Finados, a cristandade católico-romana comemora a festa em honra à memória de seus fiéis defuntos. Momento de relembrar os que não mais estão aqui. Oportunidade de reencontro simbólico e espiritual com a saudade que eles deixaram para trás.
Em Mossoró, como em quase todo o Brasil, é dia de cemitérios lotados e muito vai-e-vem de fiéis e familiares. Dia também de visitar o túmulo de uma personagem mais do que inusitada: Jararaca, membro do bando de Virgulino Ferreira, o Lampião, que no já longínquo 1927 haviam tentado invadir Mossoró. Sem sucesso, foram recebidos por forte resistência organizada pelo então Intendente (espécie de prefeito à época) da cidade Rodolfo Fernandes à bala, o bando fora rechaçado e Jararaca, ferido e capturado, segundo a historiografia local, terminou sendo enterrado vivo.
Pela tradição do catolicismo popular, principalmente o cultivado por nossas bandas sertanejas, indivíduo que morre em suplício, mesmo bandido, tem suas penas perdoadas e, por direito divino, ascende aos céus em sua plenitude. Recebido por São Pedro e por Nossa Senhora, o ex-bandido, antes mau e irascível, além de perdoado seus inúmeros pecados, torna-se interventor das desgraças nossas aqui na terra.
Jararaca tornou-se, como tantos outros casos (o do bandido Baracho no Cemitério do Bom Pastor em Natal é outro exemplo), Santo. Bandido Santo ou Santo Bandido. Santificado pela fé popular. Santo popular, portanto, como presenciei em várias idas ao Cemitério São Sebastião em Mossoró, onde seus restos mortais estão depositados. Lá encontrei velas e flores, fotografias e peças de ex-votos e até despachos de alguma manifestação sincrética afro-brasileira.
Interessante é que, enquanto o túmulo do prefeito herói, está basicamente abandonado, sujo e sem visita alguma, o do seu algoz, o cangaceiro Jararaca encontra-se reformado, limpo e extremamente visitado. A lógica da religiosidade popular não segue a lógica da História ou da política oficial afinal.
Como nos lembrou o mestre Câmara Cascudo, a fé do povo baseia-se em uma lógica tradicional, onde o “tudo sempre foi assim” impera e onde não há espaços para as contestações da modernidade. Não tente racionalizar meu caro leitor. Jararaca é santo, porque assim o fez o povo.
Neste Finados, portanto, roguemos: Jararaca, que morreu por seus pecados, rogai por nós, desta Terra da Resistência que um dia ousastes tentar conquistar.

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