O ano de 2016 poderá ganhar o indesejado título de mais violento da história do Rio Grande do Norte. Até às 20h da sexta-feira passada, 1.011 pessoas tinham sido assassinadas no estado com o maior número de ocorrências em Natal, Mossoró e Parnamirim. Se não forem implementadas políticas efetivas de ações de combate ao tráfico de drogas e estancamento das fugas de presos do Sistema Prisional, conforme disposto em relatórios sigilosos da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), o número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) deverá ultrapassar os dois mil até o fim de 2016 pela primeira vez na história do estado.
Somente no primeiro semestre deste ano, a evolução dos casos de homicídio foi de 24,2% em relação ao mesmo período do ano passado.Num desequilíbrio que atemoriza a população, a criminalidade aumentou e a estrutura de combate diminuiu ao longo dos anos. Hoje, a Polícia Militar conta com menos de 7.600 servidores na ativa, que se dividem no policiamento ostensivo, serviços administrativos da Corporação e ainda os que são desviados de suas funções de origem. Por ano, apenas a Polícia Militar perde aproximadamente 800 servidores por aposentadoria, baixas por morte e demissões por motivos diversos.
Por lei, a PMRN deveria ter em seus quadros 13.466 soldados e oficiais. Com base no baixo efetivo e com o intuito de otimizar as ações, a própria Sesed confeccionou relatórios de caráter sigiloso, distribuídos a todos os Comandos de Polícia Militar no estado, aos quais a TRIBUNA DO NORTE teve acesso. Fontes que atuam na Cúpula da Segurança Pública relataram que, sequer, os relatórios são lidos pela maioria dos operacionalizadores das ações de segurança pois, se o fossem, a realidade atual seria diferente.
Nos documentos internos apresentados à reportagem, a Sesed dispõe de informações minuciosas quanto aos horários das ocorrências nas ruas e vielas das três maiores cidades do estado – Natal, Mossoró e Parnamirim, a tipificação do crime e o georreferenciamento, o que serviria para a montagem das operações de combate à criminalidade com escala de efetivo e ações específicas para cada região.
O Relatório aponta a possibilidade de gerir novos métodos de Segurança Pública, mas que “não são implementados”, disse um servidor que integra a Segurança Pública potiguar com acesso ao documento. Além de todo o detalhamento das ocorrências, que subsidiariam o desenvolvimento de políticas de policiamento ostensivo e repreensivo efetivas, os questionários que integram o Relatório também são esquecidos pelos gestores e não são respondidos.
As respostas complementariam o rol de dados da Secretaria, que contaria com o ponto de vista do policial para melhorar o trabalho fim. Os mesmos relatórios renegados pela Segurança Pública potiguar foram requisitados pelo Governo da Colômbia, num caminho inverso ao publicado pelo governador Robinson Faria, quando da viagem às cidades de Bogotá e Medelin, em fevereiro deste ano, cujo objetivo era importar o modelo de segurança adotado naquelas cidades, considerado um “case de sucesso” na redução das ocorrências. “Estamos aqui representando os anseios da população norte-rio-grandense, que busca melhorias para sua segurança pública, e por isso viemos conhecer mais de perto as ações aplicada pelas autoridades colombianas que se tornaram referência mundial na redução da violência e estabelecimento da paz social”, disse o governador Robinson Faria em nota enviada pela Assessoria de Comunicação do Estado em 25 de fevereiro deste ano. Cinco meses depois da visita, nenhum plano de redução de crimes foi implementado no Estado.
Tribuna do Norte
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